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Eu prometi a mim mesmo, e acho que a vocês também, que não mais falaria em pandemia e no Corona-19. Vou quebrar a promessa sem falar muito neste assunto. Apenas para dizer que a coisa aqui tá feia. Apesar de já ter tomado a segunda dose da vacina, continuo em casa.
Pois bem. À procura do que fazer, o pensamento viajou na velocidade da luz, e nesta viagem eu apeei em Piritiba. Para ser mais exato, apeei no quiosque que tem no fundo da casa dos meus pais. Lá estavam sentados vários amigos, proseando animadamente. Zé Alberto, filho de Otavinho, estava entre os amigos e foi ele quem me contou o que passo a relatar:
Foi num 31 de dezembro, de um ano que já não me recordo, que Galego reuniu a família para o último almoço do ano.
Tide, a esposa, agradeceu a Deus a graça de mais uma refeição. Antes, porém, pediu para o filho mais novo tirar o dedo do nariz e a menina, sentar com “modos”.
Após o agradecimento, foi a vez de Galego falar:
– No ano que vem eu vou comprar um bilhete da loteria federal e, ganhando o prêmio, compro um Galaxie marrom (era o carro mais luxuoso da época) e vamos veranear na ilha de Itaparica.
O filho mais novo, ainda com o dedo indicador dentro da narina, disse: -“Pai, eu quero viajar no banco da frente”.
– Quem vai no banco da frente sou eu, reclamou a irmã.
– Você que pensa. Quem vai na frente sou eu que sou o mais velho, falou o outro irmão, dando um chute por debaixo da mesa, que acertou em cheio a canela da irmã.
Daí em diante, a discussão se transformou numa verdadeira guerra. Os irmãos se atracaram na disputa de um lugar.
Tide tentava em vão acalmar os ânimos dos filhos. Galego ficou irritado com a situação e deu um murro na mesa, fazendo voar pelos ares, facas, garfos e pratos e esbravejou:
– Seus moleques mal educados. Amanhã mesmo vou vender o Galaxie, nem que tome prejuízo, e a viagem está acabada.
De nada adiantou o pedido de Tide para que o marido reconsiderasse a sua decisão. A viagem acabou.
Por: Adaelson Alves Silva
Observação: O colunista Adaelson Alves Silva é piritibano e atualmente ele reside no Estado do Paraná, onde é médico nefrologista. Ele está produzindo uma série de crônicas para o Blog do Adenilton Pereira que serão publicadas sempre às terças-feiras. A colona produzida por Dr. Adaelson tem o nome de “Um Dedo de Prosa”.
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