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Toda cidade que se preze, tem em seu seio inúmeras figuras folclóricas. Com certeza passaríamos horas se fôssemos enumerar todas elas. Na verdade, a minha intenção era falar de várias, mas vou me limitar a relembrar de duas delas. Escolhi umas que tiveram dificuldades de aprender o beabá, apesar do esforço dos professores, homenageados neste mês de outubro.
Vou começar pelo vaqueiro de Otavinho, conhecido por Zé Pé de Couro. Um cara excelente na lida com as vacas, bezerros, cavalos e touros. Já não podemos falar o mesmo quando o assunto envolvia letras ou números.
– Como, minha senhora? Se Zé tinha o miolo mole? Eu tenho cá comigo que a resposta é sim.
Um sábado destes que o tempo se encarregou de levar para muito longe, Mere das Petas viu Zé, garbosamente montado em um cavalo alazão e trazendo na sua cabeça uma grande trouxa. Curiosa com a cena, perguntou:
Zé Pé de Couro, por que você está com a trouxa na cabeça?
– É pra o bichinho (o cavalo) não carregar peso.
Mere saiu dando risada com a resposta e foi vender as suas “petas” no Bar Central, que estava cheio de frequeses.
Acho que careço apresentar, pra quem não conhece, a minha amiga Mere das Petas. Ela foi a minha babá. Morou com a nossa família por muitos e muitos anos. Alma boa. De uma pureza tal como o OMO. Só que, quando o assunto é leitura e conta, Mere fica do outro lado do rio. Chegada numa branquinha e sócia benemérita da banca do jogo do bicho. O que ela fatura com a venda das petas, investe tudo no jogo do Bicho.
O que passo a relatar, foi Beca, o mano, quem me contou.
Pois bem. Ele estava sentado à mesa do Bar Central, quando Almerinda chegou com o seu balaio de petas.
– Mere, se eu te comprar 2,0 reais de peta e depois comprar mais 3,0 reais, com quanto você fica?
– Olha Beca, eu “num” fico com nada. Eu jogo tudo no bicho.
– Mere, quanto custa 10 petas?
– Oi, Beca, pra você eu faço 2,0 reais?
– E 50 petas?
– Ou Beca, quem diabo vai querer comprar tantas petas?
Por: Adaelson Alves Silva
Observação: O colunista Adaelson Alves Silva é piritibano e atualmente ele reside no Estado do Paraná, onde é médico nefrologista. Ele está produzindo uma série de crônicas para o Blog do Adenilton Pereira que serão publicadas sempre às terças-feiras. A colona produzida por Dr. Adaelson tem o nome de “Um Dedo de Prosa”.
